A outra epidemia: suicídios pós-covid

Esta é uma mensagem para jornalistas e formadores de opinião, youtubers e influenciadores.

juliano spyer
2 min readOct 19, 2021
O Suicida de Édouard Manet 1877–1881. Fonte: Wikipédia

Como vocês sabem, pelo menos por meio de notícias, a pandemia produziu uma segunda epidemia, que é de saúde mental.

A gente ainda não prevê quando o Brasil se recuperará economicamente desta sequência de traumas — muita gente desempregada, queda de rendimento, encarecimento de alimentos e gasolina, aumento do número de moradores de rua, crescimento do número de famílias em situação de miséria.

Mas junto com isso há também o trauma causado pelas consequências psicológicas do covid: crianças sem poder ir a escola, pais e mães sobrecarregados, trabalho transferido para home office mesmo para quem não tem infraestrutura (silencio, equipamento) para fazer esse movimento, o aumento da carga de trabalho que vem com a pessoa estar sempre em casa e (supostamente) supostamente disponível, sem falar no impacto do noticiário tóxico há quase dois anos, e — para muitas famílias — a experiência de perder parentes para o Covid.

Escrevo este texto porque neste último mês fiquei sabendo de três casos de suicídio. É um dado anedotal porque não se trata de uma pesquisa controlada, mas é significativo saber que há muito tempo eu não tinha informação de pessoas do meu circulo de relacionamentos que cometia suicídio e que em um mês isso aconteceu três vezes, em contextos diferentes.

É mais difícil perceber esse movimento quando estamos “bem, considerando…”, como muitos amigos dizem respondendo à pergunta se eles estão bem; há uma certa culpa em quem, durante a pandemia, não perdeu emprego, nao perdeu parentes, tem uma rede de suporte afetivo, dispõe de plano de saude privado e faz ou pode fazer terapia.

O suícidio é a parte visível do iceberg. Embaixo da água estão as pessoas ansiosas e/ou deprimidas, comendo em excesso, bebendo em excesso, tomando remédios sem prescrição médica, encontrando caminhos possíveis para segurar as pontas.

Agora que a pandemia está mais ou menos controlada, com muitos brasileiros vacinados e a terceira dose sendo aplicada, talvez seja a hora de começar a olhar para a outra epidemia, a de saúde mental, pautar esse assunto, trazer a questão para o debate público, de maneira sensível, para informar sobre possibilidades de tratamento, desde buscar ajuda entre familiares até serviços de atendimento mais baratos ou públicos.

Segue o link para uma pesquisa realizada pelo PiniOn/Behup durante a pandemia sobre o impacto da pandemia para casos de saude mental.

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