Divulgação de dados oficiais sobre a Covid-19 contribui para genocídio de pobres no Brasil
Brasil tem 2/3 da população norteamericana mas oficialmente tem apenas 1/20 do número de contaminados dos Estados Unidos. A imprecisão do nosso dado oficial põe em risco a vida de 170 milhões brasileiros dependentes do SUS que poderão morrer por qualquer alergia respiratória.
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Os dados de 22 de abril (aqui, números atuais) são de que cerca de 840 mil norteamericanos testaram positivo para o novo coronavírus contra apenas 45 mil brasileiros. Uma aplicação da regra de três ensinada para alunos do ensino fundamental demonstra que o Brasil têm 2/3 da população dos Estados Unidos. Mas segundo os dados oficiais, temos apenas 5% do número de infectados pelo vírus da Covid-19 em relação ao mesmo país.
A comparação entre Brasil e EUA não é precisa, mas se eles têm outro clima e maior malha aérea para a dispersão do vírus, nós somos campeões em desigualdade e esse fator favorece o contágio.
O número de infectados no Brasil vem sendo contestado por especialistas, mas ainda é amplamente reportado, propagandeando o argumento a favor da flexibilização do isolamento, o que contraria recomendações da comunidade científica mundial.
Genocídio anunciado
A confiança cega no dado estatístico afeta principalmente o brasileiro mais pobre, que já vive em áreas de maior densidade social, é mais dependente da solidariedade coletiva, tem menos reservas para manter o isolamento, tem menos possibilidade real de trabalhar a distância e mais frequentemente presta os “serviços emergenciais” em mercados, farmácias, agências bancárias e serviços de delivery.
A mortalidade provocada pela Covid-19 contestará naturalmente o argumento favoravel à proteção da economia. Para mitigar esse genocídio anunciado, a discrepância do dado oficial deve ser denunciada e substituída por números já disponíveis, como aumento das internações por síndromes respiratórias e dos óbitos por pneumonia e insuficiência respiratória. Análises recentes apontam para a utilidade do oxímetro de bolso.
Os brasileiros escolarizados podem tanto defender o isolamento como atacá-lo. Temos mais reservas financeiras para resistir ao isolamento, nossa atuação profissional é geralmente compatível com o trabalho a distância e também somos os maiores clientes de planos de saúde privada. Portanto, além de menos expostos ao vírus, caso contaminados, estaremos menos sujeitos à
espera para utilizar equipamentos e profissionais médicos.
Cabras marcados para morrer
Na realidade, a Covid-19 é mais uma doença social do que uma doença do corpo. Acessos à saúde e à proteção policial deveriam ser iguais para todos. Apesar disso, dados oficiais apontam que a incidência de mortes violentas aumenta proporcionalmente à pigmentação da pele. O mesmo acontece com a Covid-19 em países pobres e desiguais como o Brasil,
Os empregados obrigados a trabalhar durante a pandemia— sob o risco de demissão por justa causa — geralmente fazem parte dos 85% dos brasileiros das classes CDE empregados em mercados, farmácias, agências bancárias e negócios semelhantes. Esse mesmo extrado social compõe majoritariamente o grupo de 170 milhões de brasileiros que não pagam planos de saúde privados.
Mortes por asfixia
Quem está mantando neste momento são as UTIs públicas lotadas. A pessoa que sofrer uma crise respiratória, independente de estar contaminada pelo novo coronavírus, não terá acesso ao atendimento recomendado. E para complicar, os meses frios e secos do outono, aumentarão os casos de doenças respiratórias.
Por tudo isso, noticiar o dado oficial é irresponsável e criminoso.