Clubhouse é foda, para além do hype
Amazon explora o modelo lançado pelo Clubhouse com o objetivo de reinventar o rádio e isso aponta para algo surpreendente que também envolve podcasts
Talvez você ainda não tenha experimentado o “fenômeno” Clubhouse. A gente precisa priorizar como emprega o tempo. Não dá para priorizar tudo. Mas o serviço, assim como o TikTok, vai além do “vapor barato”. Tem coisa aí.
Escrevo isso porque tive algumas oportunidades pontuais de exportar o Clubhouse, inicialmente incentivado pela Carol Dantas, depois pelo Luiz Algarra. E esta semana participei de uma conversa na sala #furandoabolha organizada pelo André Tamura, e não conseguir não pensar em como esse espaço é a reinvenção do radio, um passo seguinte ou em paralelo ao #podcast, de programas ao vivo.
Como tudo na internet ou na vida, não dá pra entender sem “bulir” para entender mais precisamente este relato. Perceba, quando for experimentar, o treinamento que o participante têm misturando capacidade de falar publicamente como um locutor de rádio e também de organizar uma conversa em grupo.
Passos seguintes para o modelo do Clubhouse podem ser na direção de gravar o material das interações e disponibilizar como podcasts, para o material poder ser consumidor de maneira assíncrona. Porque o futuro do rádio ou da mídia não é apenas a amplificação do mesmo modelo, por exemplo, via estações de rádio digitais que transmitem para o mundo todo por satélite, mas a destruição do modelo anterior, a destruição da profissão do radialista e da separação entre audiência amadora e radialista profissional, como é o caso da transformação realizada a partir do YouTube em relação à possibilidade de produzir audiovisuais de maneira amadora, e que abriram caminho para o surgimento de fenômenos como Porta dos Fundos, Carlinhos Maia e os irmãos Neto.
A minha cabeça explodiu enquanto participava da sala comandada pelo Tamura, em visões sobre potenciais dessa solução, e por isso discordo humildemente da condenação sobre o fim do Clubhouse reproduzida abaixo. Talvez ele siga o caminho do Second Life, que talvez tenha aparecido antes do tempo, talvez seu trajeto tenha sido comprometido pelo sucesso que levou ao lançamento de versoes por Twitter, Facebook, etc. Ou talvez a semente esteja germinando fora do campo de visão de quem abraçou a solução no momento de hype e agora parou de acompanhar porque — a verdade das verdades — não dá para priorizar tudo.
E mesmo sem ser participante assíduo do Clubhouse, tendo tido a oportunidade de refletir sobre ele
- sentindo o envolvimento dos “usuários raiz” e de como a solução pode ser acompanhada 24/7 por pessoas da mesma maneira como no passado deixávamos o rádio ligado para ter companhia;
- como existe a possibilidade de ir mudando de salas como se mudava de estações;
- mas como a solução superou o modelo na medida em que, pelo Clubhouse, você pode abrir “estações” minúsculas (imagine ter uma estação para falar sobre Lego, por exemplo, e mantê-la de graça) e cultivar relacionamentos a partir de um tema
- e pode também mudar a sua condição rapidamente de ouvinte para entrevistador para especialista para entrevistado
Por isso entendo que o Clubhouse deu a luz a um modelo poderoso e é isso também o que leio na newsletter Breaking the box do PiniOn, baseado em noticia do Braintorm9, e reproduzo o trecho com a notícia a seguir:
Apesar do Boom do Clubhouse ter acabado e quase não se ouvir mais sobre o aplicativo, a Amazon está desenvolvendo uma versão própria da plataforma com o nome provisório de “Project Mic”.
De acordo com o The Verge, a maior meta da empresa com este novo produto é “democratizar e reinventar o rádio”, com foco inicial nos EUA e a possibilidade dos usuários de criar e distribuir seus próprios programas no formato. Os projetos criados poderão ser ouvidos tanto no app oficial quanto em plataformas como o Audible, o Amazon Music, a Twitch e os sistemas da Alexa, com o último oferecendo recursos extras de interação.