Empreendedores: Talvez haja uma oportunidade no mercado livreiro
Há oportunidades no setor do livro e da leitura. Esta texto curto sintetiza o contexto insuficiente / limitado dessa indústria neste momento e sugere caminhos.
Este texto é baseado em reflexões de quem acompanha esse assunto com curiosidade, mas que não faz parte do mercado livreiro. Peço, então, outras pessoas melhor posicionadas dentro da indústria para me corrigir ou acrescentar informações deixando suas mensagens na área de comentários.
Este é um daqueles textos que conta toda a história, dado por dado, argumento por argumento, até concluir dizendo qual é a oportunidade sendo apresentada. Se você é muito ansioso, pule até o final do texto.
Vou circular este texto sem revisar; adiante vou corrigindo e acrescentando links. Explorei este tema considerando soluções diferentes neste artigo.
Contexto:
- Custa para fazer, demora para receber — Para quem não sabe, editora gasta para fazer o livro, um processo que pode durar um ano e que envolve uma variedade de profissionais, depois gasta para imprimir e distribuir, deixa os livros consignados e só recebe se os livros forem vendidos
- Calotes afetando os negócios pequenos — Nos últimos anos, três grandes varejistas de livros fecharam ou estão para fechar, a Fnac, a LaSelva e a Livraria Cultura.
- Mercado livreiro limitado — falam que existe mais livrarias na cidade de Buenos Aires do que em todo o Brasil. Se isso foi verdade e se continua sendo, não importa tanto quando lembrar que o mercado de leitores no Brasil é restrito e que também por isso, livros são caros.
- Pouco espaço para o livro digital (em termos) — Dados recentes divulgados pela Camara Brasileira do Livro (CBL) indicam que a venda de livros digitais (ebooks) corresponde apenas a 5% da receita da indústria do livro, mas esse dado é impreciso porque existem os livros digitais que circulam sem serem comercializados.
- Distribuição grátis em redes informais e em sites especializados — a) existe uma tradição aceita de fazer cópias (xerox) de livros nas universidades; b) que essa tradição migrou pro digital e que funciona dentro de redes informais públicas e privadas de circulação de arquivos de livros digitais; c) é relativamente fácil baixar qualquer livro lançado nos últimos 20 anos em sites brasileiros e internacionais;
- Leitores não precisam de e-readers como o Kindle — o smartphone é uma alternativa para a leitura de ebooks que está nos bolsos de maior parte dos brasileiros.
As consequencias disso são:
- Problemas financeiros parte 1 — Editoras pequenas ou médias com problemas financeiras por causa dos calotes que sofreram de Livraria Cultura, Laselva e Fnac.
- Problemas financeiros parte 2 — Editoras pequenas e médias sofrem também por verem diminuídos as livrarias que vendem seus produtos. As principais livrarias em funcionamento no país são a Leitura, atualmente a maior do país com mais de 70 lojas, localizadas em shoppings e aeroportos; a Martins Fontes; a Travessa; e a Livraria da Vila. Estas últimas atendem a leitures geralmente mais intelectualizados dos bolsões das camadas médias e altas em bairros como Jardins e Vila Madalena em São Paulo e Leblon no Rio de Janeiro.
- Varejistas online e as dificuldades para a entrega— É possivel comprar livros online via serviços como Amazon. Gostaria de saber em que medida eles compensam ou superam as vendas que antes aconteciam apenas via livrarias. Mas há o problema das entregar via Correios ou outros serviços semelhantes. O Correio no Brasil parece ser lento e menos confiável em relação aos correspondentes em países ricos.
Espaços novos sendo ocupados
O surgimento de oportunidades de empreendimento no mercado livreiro pode ser demonstrada pelo surgimento nos últimos anos de empreendimentos que ocupam espaços e oferecem soluções que a indústria não teve interesse ou capacidade de produzir. Alguns exemplos são:
- Auto-publicação — serviços variam desde o da Amazon, que é gratuito, até o de soluções como o Clube de Autores, PerSe, Editora Labrador, entre outras, atacam o problema do gargalo de muitas pessoas querendo publicar e um mercado de editoras reduzido e com menos dinheiro para investir em novos lançamentos.
- Publicação de livros via Crowdfunding — serviços como Catarse permitem e estimulam que o autor venda o livro antes de publica-lo. É uma solução inteligente para editoras que até agora fizeram o caminho contrário: fizeram o livro, entregaram em consignaçao, para depois (se nao houver calote) receber o dinheiro. O próprio Catarse promoveu recentemente a publicação de Crowd, o guia do financiamento coletivo para autores e editores de livros.
- Publicação de livros sobdemanda abre possibilides de venda em outros varejistas — A impressão sobdemanda significa que o autor não precisa investir para o livro ser impresso; cada comprador paga diretamente para um livro ser impresso e enviado. Isso amplia inclusive as possibilidades do livro ser vendido internacionalmente e aparecer em livrarias em outros países. E venda dos livros impressos sob demanda tambem em varejistas como Magalu, Americanas e Casas Bahia — porque eles nao precisam comprar antecipadamente o produto, apenas encomendar.
- Sebo online — o Estante Virtual abocanhou a oportunidade de servir de ecommerce para sebos. Voce compra a maioria dos livros impressos lá a custos geralmente menores do que os das livrarias, e com a vantagem de encontrar livros que já nao estao em estoque e sairam de circulacao no circuito das livrarias.
- Revendedores que tem suas proprias livrarias e vendem no marketplace de Amazon, Magalu, Americanas, etc.
Agora, sim, a oportunidade: uma livraria com entrega agendada.
Existe uma expressão em inglês que fala sobre "food for thought", comida para pensamento.
Consider isso e a força que serviços de entrega se tornaram parte da vida de milhares de novos consumidores, que agora, em funçao da pandemia, fazem suas compras de mercado e de restaurante usando serviços de ecommerce via Ifood ou Rappi, ou mesmo apenas a entrega via Loggi.
Considere ter uma seleção de livros em um lugar que nao precisa ser uma rua comercial onde o aluguel custa caro.
Considere que o comprador pode escolher seus livros via app, com o conforto e a facilidade que tem hoje para comprar comida.
Considere fazer um recorte editoral: apenas bestsellers, apenas livros das editoras mais conceituadas, apenas livros evangelicos, apenas livros de autoajuda.
Considere recomendar livros, fazer a curadoria, indicar livros que sejam bons mas que estejam fora das prateleiras por ter sido lançado há alguns meses e anos. Várias editoras fazem isso, recuperam grandes livros de grandes autores que estão fora do campo de visao dos leitores, e relançam.
Enfim, é apenas isso. Pense nisso funcionando em uma cidade como São paulo ou Rio de Janeiro ou Belo Horizonte ou Curitiba ou Salvador ou Fortaleza, ou mesmo cidades de grande ou medio porte que não são capitais. O livro que voce quiser, uma nova leitura, neste momento de confinamento de muitos, mas que seja fácil de escolher e que chegue rápido nas maos do comprador.
Sei lá, pareceu um modelo de negocios interessante, que pode servir para empreendedores de diversas cidades do país e também ajudar as editoras que estão sofrendo pela falta de livrarias ou de agilidade dos servicos online.
Faz sentido?