Facebook pode causar ou ampliar depressão e ansiedade?

juliano spyer
3 min readFeb 18, 2018

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Neste texto, examino motivos que podem levar o uso contínuo do Facebook a promover a solidão e consequentemente estados de ansiedade e de pressão.

Um dos argumentos do livro Lost Connections, do autor britânico Johann Hari, é que depressão e ansiedade são mais comuns em pessoas que têm menos vínculos sociais.

A princípio o Facebook deveria ser o contrário disso, porque junta pessoas. Mas vale perguntar como essas pessoas, ligadas entre si pela internet, se juntam e convivem umas com as outras.

Seguramos amizades antigas

Uma das primeiras descobertas que levaram as pessoas as criar contas nas redes sociais foi a oportunidade de reencontrar antigas amizades.

Se o seu Facebook é parecido com o meu, a sua lista de amigos poderia servir para fazer uma “arqueologia da sua vida”. Ali estão pessoas que representam momentos diferentes da sua vida, amigos de escola, de bairro, de faculdade, ex-colegas de trabalho, etc.

Amigos à distância

Além de juntar pessoas com quem a gente perdeu contato, a plataforma também favorece a manutenção de vínculos com quem mora longe da gente.

O efeito, podemos especular, é semelhante aos de se ter manter contato com amigos de outras épocas. Ambos são pessoas com as quais há um distanciamento: seja de tempo ou de espaço.

Consequências

Meu argumento aqui é que o Facebook obviamente quer que você use mais o serviço, por motivos óbvios. Mas ao fazer isso, intencionalmente ou não, cria em alguns contextos menos incentivos para a gente formar grupos de relacionamentos locais e presenciais.

Acontece que a amizade filtrada pelo Facebook é diferente do convívio direto. Não é o caso aqui de descrever essas diferenças de maneira detalhada. Imagino apenas a situação em que encontramos presencialmente com alguém e naquele prazo estamos com a pessoa e ela com a gente e notamos a atenção que ela dedica para você.

No Facebook esse encontro é sempre fragmentado porque a menos que se esteja falando por chat, a atenção dada aos relacionamentos é pulverizada de acordo com o tempo que se tem disponível e as postagens que aparecem na sua linha do tempo – sim, porque um algoritmo decide quais postagens suas aparecem para quem e quando isso acontece.

Conclusão

Me pergunto, considerando esse contexto, se o uso do Facebook não estimula a ansiedade causada pela sensação de solidão. Porque a solidão é um grande motivador para se querer usar mais e mais a rede social.

Um possível motivo é a aparente abundância de contatos: Para que dar aquele gás extra para sair e conhecer gente, mesmo dar atenção a pessoas novas, quando levamos no bolso todas as pessoas que já gostamos e que gostam da gente. Para que trocar o incerto pelo seguro?

Ao mesmo tempo, o acesso continuado parece ser estimulado pelo algoritmo da plataforma. A gente pode ficar acessando a o Face como medidor de popularidade. Pelo Face teríamos “evidência” de quem se interessou por nós, baseado nas interações relacionadas ao nosso perfil – exemplo: quantas curtidas o seu post recebeu.

Mas esse termômetro de popularidade parece funcionar como um caça níqueis: dá a impressão de que você está para ganhar para você continuar participando.

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Written by juliano spyer

ethnographer, digital media enthusiast and writer. Mais em: www.julianospyer.com

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