O filósofo, o jardim e a morte

juliano spyer
2 min readOct 5, 2021

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Um racionalista de 97 anos contempla o precipício

A revista The Atlantic fez um minidocumentário sobre a proximidade da morte entrevistando com um filósofo de 97 anos.

Acadêmico da prestigiosa universidade da Califórnia durante 40 anos, escreveu sobre alcoolismo e crime, aparentemente sem deixar um legado que sobreviverá a ele.

Escreveu inclusive um sobre a morte, concluindo que não deveríamos ter medo da morte porque na morte a existência acaba. Hoje ele discorda dessa conclusão, apenas por notar como, aos 97 anos, continua tendo medo de morrer.

O vídeo é um pouco tolo; um idoso intelectual vivendo a rotina privilegiada, com sua cuidadora hispânica, seus remédios, seu bacon com ovos, sua casa espaçosa e vazia.

Diariamente ele se pergunta sobre o sentido da vida. E conclui que talvez não haja sentido e que a única resposta convincente parece ser o silêncio.

Não se dá por vencido, mesmo sem conseguir respostas, e espera. Parece que ele está perto de um abismo inevitável sem querer olhar.

Pergunto: – É abençoado quem mantém a lucidez nessa idade? – Por que ele deseja continuar vivo estando debilitado e solitário? – Será que ele sou eu em uma superposição de tempos e adiante estarei em um lugar parecido, mais simples, angustiado e calmo?

Uma vida comum, aparentemente. 70 anos casado. Em um trecho ele diz que vive acompanhado pela ausência da companheira, quem ele abraçou no momento da morte.

Duas passagens do documentário não são tolas.

A que ele escuta música. Não vou dar spoiler.

Em outro momento ele contempla as árvores no fundo da casa. E fica triste – talvez seja uma felicidade triste – porque em muitas décadas vivendo naquela casa só agora prestou atenção nas árvores.

https://youtu.be/qX6NztnPU-4

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juliano spyer
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Written by juliano spyer

ethnographer, digital media enthusiast and writer. Mais em: www.julianospyer.com

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