Os 5 motivos por que o brasileiro pobre apoia Bolsonaro
3 min readSep 3, 2021
A maioria dos eleitores brasileiros é pobre (segundo o IBGE, 10% dos brasileiros concentram metade da renda do país) e percebe os debates políticos do país a partir de referências diferentes das pessoas que moram em bairros protegidos e têm acesso a benefícios como planos de saúde e serviços públicos e privados de segurança. A seguir, registro os principais motivos para muitos eleitores das camadas populares continuarem defendendo o governo do presidente Jair Bolsonaro.
- “O perseguido” — a frase mais comum que ouvi sobre política ao longo de 18 meses fazendo trabalho de campo em um bairro pobre é: “ políticos são todos iguais”. Segundo esse argumento, eles aparecem sorridentes durante as campanhas, dizem sim para tudo, e, se são eleitores, desaparecem… até a próxima campanha. Ao se posicionar como o “perseguido” pelos políticos tradicionais e corruptos, Bolsonaro aciona essa narrativa e quanto mais ele apanha ou se diz perseguido, mais ele se fortalece como alguém que está sendo boicotado pelo sistema.
- “Lula ladrão” — o item anterior se fortalece também a partir da narrativa de que Lula foi preso e condenado pela justiça. A condenação justifica a percepção de que “todos os políticos são iguais”, que só se importam com eles mesmos. A pré-candidatura de Lula alimenta a ideia de que existe uma armação para impedir que Bolsonaro realize as mudanças que ele pretendia fazer no país, especialmente em termos do combate à corrupção.
- “Negacionista” — o brasileiro pobre não trabalha em home office — a exceção de quem atua com atendimento ao cliente. A ideia de fazer lockdown em cidades, limitar a circulação de pessoas, fechar o comércio soa elitista e insensível para quem depende de sair para garantir o sustento, porque faz trabalhos manuais como vigia, vendedor, motorista, entregador, etc.
- Criminalidade — parece contraditório que os pobres defendam a polícia e as pessoas de classe média tenham “consciência social” para protestar contra a polícia truculenta. É uma aparente contradição porque o pobre está mais exposto à violência e se vê recorrentemente assustado e frustrado pela perspectiva de ter seu celular, sua moto ou seu carro roubados. De novo, a ideia de “humanizar” ou “proteger” o criminoso soam elitista, vindo de pessoas que moram em bairros mais seguros e que têm melhores condições e apólices de seguro para mitigar as consequências de um roubo.
- Família tradicional — o pobre brasileiro morador das cidades em grande parte é um migrante ou descende de migrantes do interior rural do Nordeste. Essa população é conservadora do ponto de vista moral. Homens, mulheres e crianças têm papeis sociais diferentes. E são também principalmente católicos na origem, o que sustenta visões de mundo mais conservadoras em relação a pautas morais como aborto, sexualidade e consumo de drogas.
Um dos maiores desafios para defender o país de possíveis golpes de Estado está em abrir frentes de diálogo com uma população que vive — do ponto de vista social, cultural, moral e financeiro — muito distante das elites intelectualizadas que leem jornal, fazem algum barulho nas mídias sociais, mas representam uma parcela minoritária dos votos no país.