Por que as pesquisas registram crescimento do Lula?
Eu deveria pagar para andar de Uber e não o contrário. Como pesquisador que acompanha as eleições, tenho a oportunidade com o Uber de conversar com um completo estranho sobre os assuntos do momento, sem que isso soa intrusivo.
No fim de semana passado, ouvi o relato de um pai, ex-taxista, eleitor convicto de Paulo Maluf (ainda hoje) e que se a eleição fosse hoje votaria em Alckmin.
Mencionei para ele o crescimento das intenções de voto para Lula. Em vez de reagir fazendo o esperado discurso anti-PT, ele contou sobre uma conversa que teve com seu filho.
Em resumo, o rapaz disse ao pai:
Na eleição passada você votou no Aécio Neves, que fala bonito, e olha onde ele está agora. Nós não temos condição de pagar universidade e eu só pude estudar por causa do Lula.
Essa história ecoa o que temos registrado no Ideia Big Data acompanhando as intenções de voto do eleitor popular, especialmente daqueles que apoiam o ex-presidente Lula.
Há uma visão nas camadas com maior escolaridade de que o pobre é massa de manobra, que é iludido. A minha experiência como antropólogo, depois de 15 meses morando em um bairro periférico de Salvador, é que o pobre é o eleitor mais exigente e racional que existe.
É racional porque esse brasileiro depende do Estado mais do que as outras camadas da sociedade. Depende principalmente de escola pública e postos de saúde. Por isso ele vai votar em quem o ajudou antes. E principalmente no Nordeste, o Lula é imbatível.
A percepção que registramos desse eleitor repetidamente é a de que Lula foi o único presidente que prestou atenção nos mais vulneráveis. Quem não tinha como alimentar a família, teve. Quem não tinha casa, teve. E muito importante – como no caso que relatei acima – há a gratidão por ter podido estudar.
Hoje a metáfora da bolha tem ganhado força por causa do Facebook. Estamos cercados de pessoas que pensam como a gente e por isso há a ilusão de que todo mundo pensa mais ou menos igual. Mas essa bolha não foi criada com o Facebook; é uma bolha demográfica.
Por que as pesquisas registram crescimento do Lula? Porque 75% do Brasil pertence às classes CDE. Porque 88% dos estudantes brasileiros estão matriculados em escolas públicas. E Lula ainda é o único político brasileiro que governou para e que consegue se comunicar com esse público.
Fazer esse tipo de registro é delicado porque parece ser uma defesa dos governos petistas. É, na verdade, um ponto de partida mais realista para se examinar o que o cenário que está se configurando para o segundo turno com Bolsonaro e Haddad (representando Lula e o PT) disputando quem tem menos rejeição.
