Uma biblioteca circulante nas nuvens: para quem busca uma boa ideia para empreender

juliano spyer
3 min readOct 5, 2020

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Em um passado já meio distante programador e autor de livros Luciano Ramalho viu uma oportunidade em promover a circulação de livros dentro de círculos de amigos e de amigos e amigos. A visão era de uma grande biblioteca circulante, organizada por um serviço online. O participante registrava seus livros e via os livros disponiveis em sua rede de contatos, e cada um se responsabilizava pelas trocas. Era a ideia de uma biblioteca nas nuvens, independente de se ter um espaço físico para armazená-los.

O Google investiu na ideia, o Luciano trabalhou nela, mas o resultado não decolou, talvez por que o Correio, meio para realizar a circulação dos livros, não oferecia a agilidade necessária para quebrar a inércia dos entusiastas da ideia.

Mas continuo encantado e preso à elegância simples e visionária dessa ideia do Luciano. E de tempos em tempos me pergunto se o mundo já estaria pronto para fazê-la acontecer, para ampliar a disponibilidade de livros físicos de uma maneira econômica para os leitores.

Será que o momento dessa ideia acontecer é agora, com a pandemia tendo levado à maturidade os serviços de entrega como Rappi? Ou iFood, abrindo-se à categoria nova de "food for thought" para entregar livros? Serviços de entrega por aplicativos não seriam a chave mágica para essa engrenagem funcionar?

A questão identificada pelo Luciano é que, fora alguns livros especiais, as pessoas que gostam de ler geralmente mantém livros em casa que nunca mais vamos ler. Esses produtos até são bons para decorar “lares cultivados”, mas juntos são pesados e ocupam espaço.

Ao mesmo tempo, livros não são baratos (falo por mim). E a consequencia dessa falta de opções costuma ser vender livros aos quilos por muito pouco dinheiro em um sebo — o que já é legal, mas — conforme o argumento deste texto — pode melhorar.

Imaginei, então, esse serviço privado em que a pessoa se escreve e paga 15 reais por mês. Eu não fiz as contas, estou pensando em algo razoável ou que pareça razoável para mim. A partir dessa mensalidade, o participante pode trocar quatro livros seus com quatro livros de quaisquer outros participantes do serviço.

Os profissionais de logística provavelmente perceberam que há uma complexidade a ser solucionada porque os quatro livros recebidos não geralmente não irão para a mesma outra pessoa. Há um ponto em que o material deve ser triado, reordenado e só então entregue. Mas é para fechar essa conta que existem profissionais de logísticas e computadores, certo?

Existem muitos detalhes a serem examinados. Mas — pelo menos segundo a ideia apresentada aqui — os livros circulantes devem ter suas condições físicas reavaliadas cada vez que são recebidos, para o próximo interessado saiba as condições de produto antes de recebe-lo.

E aí está. É a sementinha de uma ideia que ainda — até onde eu sei — só vicejou e prosperou em pensamento. Mas que ela tenha sobrevivido tantos anos — não é a primeira vez que eu retorno a ela e falo sobre isso com o Luciano — talvez seja uma indicação de que ela está em pleno processo evolutivo.

E por que estou fazendo a ideia circular em vez de fazer o projeto acontecer? Porque eu quero ser usuário do serviço, não sócio dele. Quem sabe você, leitor, não vai ficar com a pulga atrás da orelha também?

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Written by juliano spyer

ethnographer, digital media enthusiast and writer. Mais em: www.julianospyer.com

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